NÓS SÓS

Quero falar hoje sobre um filme que vi recentemente e me tocou muito. Chama-se “Olhos de Ressaca”.
É um curta metragem dirigido por Petra Costa, que lançará, em maio, o seu primeiro longa: “Elena”.
O filme tem como eixo seus avós, Vera e Gabriel, que estão casados há mais de 60 anos.
Costurando seus depoimentos e lembranças com imagens do presente e do passado, cria-se um fluxo contínuo de poesia, instaurando-se um universo onírico e delicado.
Gosto da maneira como o filme consegue criar uma atmosfera de profundo silêncio, mesmo não sendo composto do mesmo. Como se nos transportasse para um hiato entre a realidade e o sonho, onde paramos pra refletir sobre essas duas vidas que caminham juntas.
Ser dois, ser um e ser...
A luz, o branco, as imagens sobrepostas, as falas, o tempo que se dá para cada segundo... Levam-me, como a ressaca do mar, para o fundo dessas águas de imagens e associações.
Sonho e devaneio sobre a vida.
Dentre as muitas imagens que me tocam nesse filme, ressalto a da sobreposição de gaivotas nas fotos.
Fotos antigas dos avós, dos familiares, ecoando no céu. O infinito que é cada um.
Isso me lembra dois palíndromos que fiz há anos:

O CÉU EM MEU ECO

e

SÓ NÓS
SÓS
SOMAMOS

O eco dos nossos antepassados ressoando em nossos céus. Mostrando-nos a medida em que somos eles e somos nós.
Estamos juntos e estamos sós.

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