RAUL ME ACORDA PRO AGORA

Escrevi o texto abaixo em abril de 2012. Pelo fato de ter revisto o filme, fiquei com vontade de publicar aqui.


Vi hoje o filme do Raul Seixas e adorei. Me tocou e me fez refletir sobre diversos aspectos da minha vida pessoal e do tempo em que vivemos. É fato que uma série de documentários, principalmente sobre música e músicos, nos dão uma injeção de ânimo e nos fazem lembrar  que a vida pode ser vivida de maneira mais intensa. E acabam por nos fazer refletir sobre o fato de que no passado, (em diversos contextos) a ebulição cultural unida a engajamentos (não necessariamente políticos) permitia que a experiência de coletividade fosse vivida de maneira mais plena, entregue e afetiva.
“Uma noite em 67”, o documentário dos Titãs, sobre o Vinicius, Itamar, sobre os Beatles, entre tantos outros, nos levam a ter contato com artistas extremamente vivos, que foram, de diferentes maneiras e em diferentes décadas, porta vozes dessa experiência de vitalidade.
Diante de filmes como estes, somos levados, por um lado, a ter uma conclusão nostálgica e não muito inovadora de que vivemos em tempos que não propiciam muito a intensidade, e por outro, somos acometidos por uma vontade de querer dar mais para essa experiência que é estar vivo. Vontade de ir mais até o fim no limite das diferentes entregas, sem economias.
O filme do Woody Allen “Meia-noite em Paris” diria que isso todo é uma ilusão e que o passado parece sempre melhor. Isso é, em parte, verdade. E alguma outra voz, vinda de dentro de mim, poderia dizer que estamos vivendo em São Paulo e no Brasil um momento de efervescência cultural e musical. Fato também. Mas não me refiro à produtividade quando faço essa reflexão um tanto nostálgica, me refiro à relação que temos tido com o presente, com as trocas reais e sobre algumas restrições a que temos sido expostos ligadas a um ideal de “saúde” e “bem estar”.
Tenho tido um real incômodo em relação ao rumo que as coisas tão tomando nos nossos tempos.  Por exemplo, a lei do psiu, a restrição de não se fumar em nenhum estabelecimento, e agora, de não se poder beber na rua. Limites que vão sendo impostos de maneira cada vez maior unidos a uma virtualização um pouco exagerada das relações - Essa sim, completamente sem limite.  Estamos inseridos nessa realidade que, por um lado, nos propicia o contato com tudo ao mesmo tempo agora através do virtual, por outro, nos apresenta restrições cada vez maiores no que se refere a facilitadores da socialização real.  E assim vamos perdendo no deleite das trocas, dos riscos. Perdendo na relação com a intensidade, com o presente e a aventura.
Escrevo esse texto porque valorizo profundamente os três itens citados acima: a Intensidade, o Presente e a Aventura. E apesar de eles estarem um pouco sem lugar escrevo para declarar meu amor a eles. Apesar de ver o Raul e tantos outros que se jogaram tão intensamente na vida, os afetos, nas drogas, de maneira a se destruírem, digo que um pouco de risco, de presente e de troca real são necessários, também à saúde. Sem eles, a coisa fica sem graça.
Dessa maneira, Raul me acordou pro agora, hoje. Sugiro que a gente nunca se esqueça de misturar uma porção de “maluquez” na nossa “lucidez” ou vice-versa.  E por fim:

- Toca Raul!

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